sexta-feira, 19 de setembro de 2014

CIDADE

CIGANOS: contando com a própria SORTE

Fugindo da seca, grupo cigano escolheu Macau para viver pacificamente
Em meados dos anos noventa, fugindo da seca e das rixas de família, um bando de ciganos trocou a vida nômade dos acampamentos por moradia fixa em Macau. Chegaram numa carroça trazendo pouca bagagem dispostos a começar vida nova e pacífica. Inicialmente, ariscos e desconfiados, despertaram certa inquietação na população, mas logo se integraram à vida da comunidade e se distanciaram das tradições ciganas. Duas décadas depois, a família cresceu e se multiplicou, mudou os hábitos, conquistou casa própria, mas reclama da discriminação, da falta de apoio e de políticas públicas para sua gente.


Ao longo dos anos o grupo de dez famílias sobrevive com grandes dificuldades, enfrentando preconceito, doenças e desemprego. Alguns ciganos mais velhos recebem aposentadorias rurais e os mais jovens fazem biscates, vendem relógios, rádios e outros artigos importados para manterem as famílias. Nas feiras, poucas ciganas ainda oferecem a previsão do futuro através da velha leitura de mão.  No ano 2000, na administração do ex-prefeito José Antonio Menezes, eles ganharam uma casa própria doada pelo governo municipal. Desde então, o Conjunto Arnóbio Abreu, localizado no Porto São Pedro, ficou esquecido pelo poder público.

No ‘bairro dos ciganos,’ onde o vento faz a curva nas proximidades da antiga estação ferroviária, o saneamento básico ainda não chegou e os animais circulam livremente pelas ruas sem pavimentação. As casas ficaram pequenas para abrigar o grupo que se multiplicou. Sebastião Dantas, 54 anos, já foi o líder do bando, mas anda cansado e doente. Sem rodeios,
ele conta que a situação está “cada vez mais difícil pra sobreviver enfrentando carestia e desemprego”. “Aqui ninguém quer dar emprego a cigano, a gente bota os filhos na escola, mas tem muito preconceito contra nós”, reclama. Aos 74 anos, Lindalva guarda poucos traços da bela e exuberante cigana que lia a mão das pessoas pelas ruas de Macau. Desde que o marido morreu entrou em depressão e ficou com sérios problemas de saúde. A pequena pensão mal dá para comprar os medicamentos.

HISTORIADORA BUSCA APOIO PARA RESGATAR A CULTURA CIGANA

Carla Lemos foi à Câmara Municipal pedir apoio para a causa cigana



Acompanhada por um grupo de ciganos, a historiadora Carla Alberta Gonzalez Lemos, pesquisadora da causa,  recentemente ocupou a tribuna popular da Câmara Municipal para denunciar o abandono e pedir solução. Ela lembrou que cigano também tem título de eleitor e merece respeito. “Existe hoje no Rio Grande do Norte mais de cinco mil ciganos, espalhados por todas as regiões, vivendo na margem do sistema econômico e sofrendo ainda o preconceito social. Em Macau, depois do Dr. Zé Antonio, nada mais foi feito, os ciganos convivem com os porcos”, enfatizou. Segundo Carla, a falta de política pública direcionada às etnias e o desconhecimento da sociedade pelas culturas tradicionais provoca muito sofrimento.  Sugeriu que seja aprovado projeto de lei criando a Semana da Cultura Cigana para “dar oportunidade de debater a questão com a sociedade, revitalizando sua historiografia tradicional”. Também pediu a destinação de um “território genuinamente cigano” onde se poderia estimular a prática das tradições que estão se perdendo no tempo.  

domingo, 14 de setembro de 2014

Carta ao MOINHO

Carta ao centenário moinho e às salinas de outrora

por Daniel Násser




Caríssimo moinho,

sei que foi testemunha de tempos melhores da nossa querida Macau e, por isso, sua estagnação atual deve ser incompreensível para você.  Com o progresso e a maior produção, não deveria Macau ser uma cidade de oportunidades? Ao invés disso, você, parado as portas da cidade, somente observa seus filhos partirem para longe em busca de novos horizontes e com regressos cada vez mais esparsos.
Amigo moinho, sou destes filhos que deixa Macau e segue de coração partido para terras estranhas, sem alento que possa acalmar meu peito, pois em qualquer parte que busque conforto sempre há de faltar o branco cristalino do sal no chão e a corroer as tinturas nas paredes antigas da casas da rua da frente.
Mas sendo você testemunha de tantas eras de benefício, deve entender com mais clareza os rumos enlameados por onde prossegue a nossa cidade. Quem sou eu para sentenciar o que é certo e errado ou para entender as idas e vindas do progresso?
Em breve afluirão da capital e outras grandes cidades rios de políticos com mares de planos mirabolantes para o ressurgimento da cidade das salinas. Sempre existirão outras fábricas de barrilha ou centrais do cidadão, coisas que se desfazem da mesma forma que chegam... Quando chegam...
Os nossos administradores municipais também já começaram seu arrebanhamento de eleitores e, se teu olhar alcançar tão longe, velho moinho, mira por um instante a praia de Diogo Lopes, onde a caridade aos pobres se resume a um prato de sopa que sumirá quando os necessitados forem contabilizados nas urnas. 


Ah, meu moinho!
Parece que todos os “salvadores” de Macau têm seus próprios interesses e que o bem desta terra não está entre eles...
E enquanto a juventude se perde nos falares da população ao revelar de forma a ruborizar-nos sua nudez mais descarada, a cidade afunda mais e mais... Pois eles permanecem inconscientes de que a pouca idade não os isenta da responsabilidade por este solo.
E não adiantam protestos de momento ou chamas efêmeras em lutas que devem ser constantes. Que a luta não se resuma as grandes batalhas, mas aos pequenos combates diários. Que se combata a falta de respeito ao seu semelhante com a mesma veemência que se afronta a corrupção. Ou o fim vai ser sempre outra máscara negra... Outro grito de momento que se perderá no silêncio eterno do tempo.
 É velho moinho, neste momento me voltam àqueles que já se foram e que ainda tinham tanto dizer... Foram a contragosto, agarraram-se a vida com toda força, como sempre lutaram por tudo, e que hoje permanecem em silêncio, descansando sobre a frondosa sombra de um flamboyant... O que teriam a dizer?

“Já não há mais moinhos como os de antigamente”
O Cavaleiro e os Moinhos
(João Bosco/ Aldir Blanc)


Folha de MACAU



CAMPANHA começa a ESQUENTAR na Terra do SAL

           
                 
Na semana do aniversário da cidade, a campanha política invadiu as ruas de Macau trazendo de volta os costumeiros discursos e as velhas promessas eleitorais. Os eleitores, embora dizendo que os políticos não merecem voto nem credibilidade, ainda se encantam com a empolgação dos locutores, o colorido das bandeiras e o pipocar dos fogos de artifício, além dos animados e bem produzidos jingles eleitorais. No entanto, nas esquinas o cenário é de indefinição. Não há garantia no voto. É possível que na reta final a municipalização dos discursos, puxados pelas lideranças locais, acabe influenciando a preferência dos mais de vinte mil eleitores com direito ao voto no dia 5 de outubro.
            
 CARAVANA DA LIBERDADE


Robinson fez discurso no centro da cidade dizendo que volta para mostrar plano de governo


A ‘Caravana da Liberdade’ de Robinson e Fátima Bezerra chegou primeiro à Macau. Passou rapidamente, deixou a ‘Bandeira da Resistência e da Liberdade’ nas mãos de uma professora e prometeu voltar para apresentar seu plano de governo. Criticou as forças tradicionais que governaram o Estado durante várias décadas, não resolveram os problemas do povo e agora voltam com um ‘discurso de mudança’. “No palanque de lá tem sete ex-governadores e três senadores que tiveram oportunidades de fazer muito mais pelo Rio Grande do Norte e não fizeram. Falar que representam a mudança é querer enganar ao povo”, falou o candidato ao governo.


            








        




CARAVANA DA MUDANÇA

Na passagem de Henrique o discurso foi municipalizado em Macau


Henrique e Vilma chegaram numa noite de sábado e encontraram uma animada comitiva, liderada pelo prefeito Kerginaldo Pinto, esperando na entrada da cidade. A ‘Caravana da Mudança’ circulou pelas ruas principais e parou na Rua Baixa Verde onde estava armado o palanque. Poucos tiveram direito ao discurso, além dos candidatos da chapa majoritária. Vilma de Faria pediu o voto macauense relembrando os benefícios que trouxe quando foi governadora. Pediu licença para sair mais cedo alegando compromisso com a presidenciável Marina Silva. Enquanto Henrique Alves pedia a elevação do discurso pregando maturidade, paz e união, o ex-prefeito Flávio Veras, com sinais de descontrole e fora de contexto, constrangeu nativos e visitantes jogando pesado contra os adversários locais.


Ataques aos ex-prefeito Zé Antonio pegaram mal no palanque de Henrique



ALIANÇAS e ESTRATÉGIAS


           
     
Os representantes dos partidos que fazem oposição ao governo peemedebista em Macau, ao que parece, estão conscientes de que precisam se unir para garantir competitividade diante de uma bem aparelhada máquina oficial. Para isso, formaram uma comissão que será responsável pela campanha de Robinson em território salineiro. Eduardo Lemos (PSB), Zé Antonio Menezes e Odete Lopes (DEM), Afonso Lemos (PSD) Wilson Roberto (PT), Dércio Cabral (PPS) e Daniel Dantas (PROS) estão dispostos a afinar o discurso em torno de Robinson. O vice-prefeito Einstein Barbosa, ainda sem partido, até o momento não definiu com quem votará para governador.

           
O bloco governista, liderado pelo prefeito Kerginaldo Pinto, acredita que vence fácil no município. Embora não tenha conseguido a unidade em torno das candidaturas proporcionais, como desejava, vai jogar todas as fichas na eleição de Henrique Eduardo. Todos sabem que, se eleito, o filho de Aluízio Alves consolidará o projeto do grupo de dominar Macau até 2020, pelo menos. Para garantir a vitória, o líder peemedebista convocou o secretariado e pediu empenho na campanha. “Vamos pra rua unidos e com força!”, avisando que a partir de agora vai andar de casa em casa para conseguir voto. Além disso, aposta que as diferenças ideológicas transformam a oposição numa intrincada colcha de retalhos que inviabiliza qualquer sonho de quebrar as velhas correntes que prendem a liberdade eleitoral do povo de Macau.


quarta-feira, 10 de setembro de 2014

CAMPANHA



ERALDO amplia REDE de apoios e conquista votos em Macau, para Deputado Federal

Eraldo Paiva, candidato a deputado federal se reúne com lideranças comunitárias de Barreiras e  Diogo Lopes
Em plena campanha eleitoral, numa manhã de domingo, Eraldo Paiva, 37 anos, interrompeu as caminhadas nos bairros da capital e pegou a BR 406, com destino ao litoral macauense. O irmão mais novo do Padre Antonio Murilo de Paiva exerce o segundo mandato de vereador em São Gonçalo do Amarante. Agora, é candidato a deputado federal pelo Partido dos Trabalhadores. Diante da exuberante paisagem de Chico Martins ele chegou pontualmente para uma conversa informal com professores e pescadores da região salineira.

Dona Ester e Seu Teodósio
Eraldo é filho de Dona Ester e Seu Teodósio, humildes agricultores, muito ligados aos movimentos da paróquia de São Gonçalo do Amarante. Recebendo forte influência de Dona Ester e do Padre Murilo, cresceu participando dos movimentos religiosos e sociais desenvolvendo sua militância na Pastoral da Juventude do Meio Popular. Atuou em grupos de Teatro e na juventude do PT. Simpático, sorriso fácil e carismático, logo despontou como líder natural na comunidade, sendo eleito vereador por duas vezes nas disputadas eleições de São Gonçalo. Atualmente ele ocupa a função de Presidente Estadual do PT no RN.


Durante a reunião, Eraldo Paiva contou que logo cedo despertou a consciência para a necessidade de lutar por igualdade social. “Minha casa sempre foi muito movimentada, minha mãe era muito envolvida na vida pastoral. Além disso Murilo sempre trazia grupos de seminaristas, ficava ouvindo as conversas e  ainda bem novo fui tocado pela consciência espiritual, política e social. Aos doze anos participei ativamente da primeira campanha do presidente Lula e comecei a entender a importância de um partido político para transformar a sociedade”.

Ampliando e lançando a REDE



A batalha de um candidato pobre, nascido no meio popular, sem a estrutura nem o lastro das tradicionais oligarquias políticas, não é nada fácil. A campanha vai ganhando corpo é nas conversas de bairro, nas pequenas comunidades, ouvindo o grito do povo, envolvendo os homens e mulheres de boa vontade que ainda acreditam na própria força para virar o jogo em defesa dos mais fracos e oprimidos. “Busco a força em Deus e no sentimento verdadeiro de querer fazer o novo, de representar e lutar pelos direitos da população, principalmente das camadas menos favorecidas da nossa sociedade e combatendo todas as formas de preconceito”, enfatiza Eraldo.

"Eu ouvi o choro dele quando nasceu e o conheço bem"
Padre Murilo, sua principal referência, fala de Eraldo com emoção e um brilho novo no olhar: “Eu ouvi o choro dele quando nasceu e o conheço bem. Desde pequeno é militante, aprendeu comigo e com as pessoas que convivem conosco. Hoje ele se lança na árdua missão de representar o povo potiguar na Câmara Federal e eu acredito que saberá honrar o mandato. Por isso, peço aos irmãos e irmãs, o voto para fazer Eraldo deputado federal. Vamos votar sem medo no 1333!”, diz, entusiasmado.

Ao ouvir as propostas de Eraldo e atendendo ao apelo do Padre Murilo a rede vem se ampliando e colhendo apoios em Macau. O ex-vereador Haroldo Martins, engenheiro do IFRN, já declarou o voto publicamente: “Graças ao trabalho de Fátima Bezerra como deputada federal, hoje temos mais de 20 campi do IFRN espalhados pelo Rio Grande do Norte, beneficiando mais de 20 mil alunos. Por isso defendo o nome de Fátima para o Senado e peço votos para Eraldo Paiva ocupar essa importante cadeira na Câmara Federal”. O ex-vereador Hailton Marques também está se engajando na campanha de Eraldo.


Em meio ao desencanto com a política, o olhar sincero de Eraldo desperta confiança e passa credibilidade. Aos poucos a candidatura vai entrando em espontâneo processo de construção coletiva nas pastorais, entre pescadores, professores e trabalhadores rurais. Moradores da Reserva Ecológica Ponta do Tubarão apostam num mandato popular para lutar pelas causas sociais, ecológicas e ambientais. Valfran, Itá Ribeiro e a professora Arlete,  reconhecidas lideranças comunitárias em Diogo Lopes, acreditam que através de Eraldo e Fátima “o povo vai chegar ao Congresso Nacional”.
 
Eraldo Paiva, irmão de Padre Murilo, candidato a Deputado Federal, conquista apoios em Macau


MEMÓRIA


Desde a infância, sempre gostei de ouvir e contar histórias. No exercício do jornalismo aprendi a garimpar personagens, famosos ou anônimos, que com suas vidas marcaram a passagem sobre a Terra das Salinas. Uma figura que marcou época na cidade foi Manoel Gomes Peixoto, conhecido como Del Barbeiro, notabilizado pela firmeza de caráter, honestidade e extrema sinceridade. Casado com Dona Maria da Conceição Rodrigues Peixoto, gerou quatro filhas: Elza, Enilde, Débora e Miriam. No dia 28 de maio deste ano, aos 90 anos de idade, Seu Del partiu para a eternidade. Em sua homenagem resgato uma matéria publicada no Diário de Natal em 1997 que conta um pouco da sua história.


O Salão de Del Barbeiro, no Beco das Quatro Bocas, marcou época na cidade. O vereador Antônio Leite era um freguês fiel.
 

A NAVALHA QUE RETOCA O PERFIL DE MACAU

Por Regina Barros

 

            No centro de Macau, numa travessa conhecida por Beco das Quatro Bocas, resistindo ao tempo e a modernidade Del Barbeiro continua fazendo barba, cabelo e bigode à moda antiga. Aos 74 anos de idade ele até já pensou em parar, mas os fregueses não deixam. Além do mais, a pequena aposentadoria não garantiria sua sobrevivência.
            Seu pequeno e humilde salão já mudou muitas vezes de endereço, mas a tradição é a mesma: não corta modelo Chanel, não abre fiado, nem fica com o troco de ninguém. O cabelo custa R$ 3,00, a barba R$ 2,00, com direito a alguns versos improvisados, brincadeiras, histórias e opiniões. Assim, apesar da concorrência, consegue manter a freguesia.
            Aprendeu o ofício ‘por necessidade’ quando era rapaz novo no pequeno povoado de Mulungu, distrito de Pendências. Filho de agricultor, logo percebeu que ‘não tinha vocação para trabalhar ao sol’. Deu então os primeiros ‘treinos’ na tesoura fazendo a cabeça da vizinhança para garantir na vida ‘um lugar à sombra’. Viu que levava jeito e se mudou para a Terra do Sal no início dos anos 50, trazendo com ele o sonho de montar um salão. Não foi tão fácil concretizar seu sonho. Instalar o salão custava caro e não estava ao alcance de um principiante. "No primeiro lugar que trabalhei disputava cliente com cinco veteranos e só consegui cortar um cabelo por que tiveram pena de mim. Se continuasse ali ia morrer de fome”, relembra Del. Com a ajuda de Godofredo Coutinho, um bem sucedido comerciante da terra, que financiou tesouras e navalhas, os ‘primeiros ferros’, conseguiu o próprio espaço no largo do antigo mercado. “Godofredo era tão bom que ainda encaminhava os amigos pra cortar cabelo comigo” recorda agradecido.
ESTILO
 
            Ao longo do tempo, convivendo com os melhores profissionais do ramo, aprendeu a arte e conquistou o público masculino. Nunca aprendeu a cortar cabelo de mulher. Ainda tentou, mas sempre achou complicado. Fregueses sempre teve de todas as idades. Na velha cadeira de ferro do barbeiro Del desfilaram muitas gerações. “Toda Macau já passou pelas minhas mãos”, diz, vaidoso. No tempo em que o dinheiro corria fácil, graças ao intenso movimento portuário, o salão era cheio e ele era o responsável pelo visual da ‘nata da sociedade’, que saía cheirando a ‘talco e Acqua Velva’.
            Quem não o conhece, a primeira vista pode até se chocar com o estilo singular esbanjando sinceridade. Evangélico, costuma dar conselhos a alguns clientes de “vida meio torta”, para se aprumarem enquanto é tempo. “Aviso que um dia eles vão prestar contas a Deus, aí vai ser difícil arranjar desculpa de última hora”, conta, garantindo que ninguém fica chateado. Em época de campanha política, porém, o salão do barbeiro pega fogo e se transforma num verdadeiro termômetro eleitoral. “Todos passam por aqui pra saber quem vai ganhar a eleição e até hoje nunca errei uma previsão”, garante. Como não costuma escolher sua preferência, acaba perdendo alguns fregueses que votam no outro candidato.
            A regra de ouro da casa é ‘Deus na frente e honestidade acima de tudo’. Por isso desafia quem diga que ele ficou com ‘um centavo de troco’. “Nem gorjeta eu aceito pra não ficar viciado”, afirma. É inimigo do fiado e quem entra já se depara com uma placa advertindo: “O trabalhador é digno do seu salário. Não fale fiado. Evite prejuízo e aborrecimento”. Mesmo assim, alguns ainda tentam e são dispensados sem contemplação. “A profissão é cansativa, pois a gente lida com muitos gostos, tipos de pele e tem que tomar cuidado para não cortar a cara do freguês”, explica.

CLIENTELA
Quando se aposentou, Del atendia clientes antigos, como Benedito, em casa.
 

            Hoje em dia a barbearia nem sempre fica cheia. A concorrência dos salões modernos oferecendo mil opções de cortes e cores, roubou muitos fregueses que juravam fidelidade eterna. Outros, porém, preservam a tradição e só confiam no velho barbeiro. É o caso do comerciante José Benedito de Souza que tem presença garantida uma vez ao mês. Luiz Gomes, aposentado, é outro que não quer saber de modernismos.

            Puxando pela memória desfilam clientes de muitas décadas que preferem o corte clássico, ‘baixinho, bem aparado, barba impecável’. “Padre Zé Luiz só cortava comigo. Minha clientela sempre foi fiel, desde o juiz da cidade, Dr. Chico Lima, passando pelo delegado, prefeito, vereador e até vendedor de rua. Todo mundo é tratado por igual”, garante. “O ex-prefeito Zé Oliveira apreciava meu corte, hoje o filho dele, Cacique, continua a tradição, mas anda meio sumido. David Batista e o irmão dele, Champirra, seguem a linha do pai deles, João Elói e só cortam no meu salão”.

           

terça-feira, 9 de setembro de 2014

MACAU: 139 anos

Lenda e MISTÉRIO contam a história de MACAU



Macau nasceu quando por volta de 1825 o mar revolto foi engolindo a misteriosa Ilha de Manoel Gonçalves. Segundo alguns historiadores os pescadores e comerciantes que habitavam o lugar se mudaram para outra ilha vizinha situada à direita da foz do rio Açu. Na bagagem traziam os símbolos da religião católica. Uma grande cruz de madeira e uma pequena imagem de Nossa Senhora da Conceição, heranças portuguesas, que até hoje estão guardadas na Igreja Matriz.


Surgia assim a única cidade brasileira batizada com nome chinês, que quer dizer ‘porto de Ama’, segundo Câmara Cascudo. A tese de Cascudo vem sendo contestada pelo escritor macauense, Getúlio Moura. Após anos de estudo e pesquisa para escrever o livro Um Rio Grande e Macau, Getúlio acredita que o nome da cidade originou-se nas araras vermelhas que habitavam a região do Vale do Açu e eram chamadas de  ‘macao’ pelos indígenas. Macau nasceu a partir da lenta agonia da misteriosa ilha que desapareceu no oceano Atlântico e logo ganhou importância econômica, graças à produção de sal marinho. Tornou-se vila em 1847 e foi elevada à categoria de cidade no dia 09 de setembro de 1875, data em que se comemora oficialmente o aniversário da cidade.

Conta o historiador Câmara Cascudo que a Ilha de Manoel Gonçalves recebeu o nome do sesmeiro que foi seu primeiro proprietário ainda no século 18. Era um povoado habitado por comerciantes e salineiros, com ruas estreitas e uma capelinha onde se venerava Nossa Senhora da Conceição. Na pequena ilha tinha mesa de arrecadação de impostos, juizado, delegacia de polícia e até um pequeno forte que garantia a defesa territorial das invasões dos piratas ingleses.



Marés de SIZÍGIA

A história da ilha tragada pelo mar ainda desperta algum interesse na Terra do Sal, embora não haja nenhum investimento oficial no resgate e preservação da memória local. Conversando com os mais antigos, quase nada se pode acrescentar sobre o assunto. Alguns pescadores e mergulhadores arriscam dizer que quando navegam nas águas mansas e claras do mês de janeiro, dos seus pequenos barcos é possível ver no fundo do oceano escombros da ilha que um dia abrigou próspero núcleo comercial e pesqueiro. Há quem aposte que as fortes correntes marinhas, que há mais de dois séculos engoliram Manoel Gonçalves, avançam sobre Macau devastando Camapum e no futuro próximo podem provocar o ressurgimento da antiga ilha.  O escritor e pesquisador Benito Maia Barros, UFRN, falecido em 2010, defendia esta tese.
Professor João Felipe (UFRN) trouxe equipe da TV Universitária para fazer documentário sobre a Ilha de Manoel Gonçalves

João Felipe da Trindade, professor da UFRN, membro do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte,  é fascinado pela origem da ilha e já encontrou muitos documentos que atestam partes da sua história. Ele afirma que não se sabe, exatamente, quando a Ilha de Manoel Gonçalves surgiu e quando ficou totalmente coberta. “Há dúvidas, até hoje, quanto à origem do seu nome. Uns falam que se originou de um sesmeiro que a possuía, mas nunca apresentaram uma Sesmaria concedida a Manoel Gonçalves. Outros dizem que ele era um piloto que a descobriu ou alguém que simplesmente viveu por lá. Talvez algum documento, ainda escondido, possa esclarecer mais adiante essa incógnita”, acredita.

Durante algum tempo os fantasmas da Ilha de Manoel Gonçalves assombravam as noites e aguçavam a fantasia das gerações que cresceram ouvindo estórias dos homens do cais. Nos livros antigos a ilha aparece como uma ‘nova Atlântida do nordeste brasileiro para onde ousados piratas conduziam o ouro que roubavam dos navios que singravam os oceanos’.  Até os anos sessenta corria a lenda que um dia Macau também seria tragada pelo mar e que a igreja matriz em cama de baleia seria transformada.

Hoje, a interessante e insondável história da ilha que mergulhou no abismo desperta a curiosidade muito mais lá fora do que na cidade que se originou da tragédia.  Às vezes aparecem curiosos jornalistas em busca de dados, depoimentos, rastros que conduzam a uma boa e intrigante reportagem. Mas não há quem conte a história. Na opinião do pesquisador João Felipe, essa origem cercada de mistério, aliada a singular beleza natural da cidade, pode ser transformada em promissor potencial turístico, desde que exista interesse, planejamento e investimento por parte do governo municipal.



quarta-feira, 3 de setembro de 2014

SALVE lindo Pendão da ESPERANÇA!

ABERTURA da Semana da Pátria
Segunda-Feira, 01 de Setembro de 2014

Quem é criança ou já dobrou a esquina do 'Cabo da Boa Esperança', não resiste aos acordes da Banda de Música Municipal de Macau. Na Semana da Pátria, diante de uma emocionada platéia, as manhãs começam animadas ouvindo dobrados antigos, enquanto o colorido das escolas desfila diante do Pavilhão Nacional.